06/09/2010

21º dia – 26/01/2010 – Terça-feira

Passeio nas ilhas do Titicaca
No café da manhã nos despedimos de nossos amigos, pois nós sairíamos cedo para passear no Titicaca, lago navegável mais alto do mundo, situado a uma altura de 3800 m.s.n.m. Nossos amigos viajariam até Cuzco mesmo sabendo que provavelmente não conseguiriam visitar Machu Picchu que continuava fechado. Desejamos boa viagem e que a estrada estivesse em melhores condições que no dia anterior. Não chovia, mas fazia muito frio com o céu bastante encoberto e raras aberturas de sol. Chegamos ao porto e em nosso barco estavam entre vários turistas, um casal de São Paulo e um rapaz do Rio de Janeiro, um pessoal muito bacana. Nossa primeira visita seria nas Islas Flotantes de Uros distante uns seis quilômetros da cidade de Puno. Iniciamos a navegação em meio aos juncos e a visão que se tem do lago com as montanhas ao fundo é muito bonita. A quantidade de ilhas flutuantes é impressionante, cada uma com suas casas com a criação de seus bichos domésticos e como sobrevivem basicamente do turismo cada ilha recebe determinado grupo de turistas. Nós visitamos a ilha Titimarka que significa o povo da puma. A sensação de pisar na totora é muito estranha e devido às chuvas do dia anterior estavam bastante úmidas. E o que nos impressionou é que eles caminhavam de pés descalços naquela umidade. Mais tarde o guia nos explicou que os moradores sofrem muito de reumatismo devido a este costume. A totora tem mil e uma utilidades, pois toda a estrutura da ilha é feita dela, as casas desde suas paredes até o telhado, os barcos que navegam pelo lago. Serve também como alimento, para produzir o artesanato e inclusive é utilizado como lenha para cozinhar na ilha. Ela tem uma determinada vida útil, principalmente nos barcos e na base da ilha, pois ficam em contato permanente com a água, então depois de determinado período é necessário fazer a substituição. Agora nas embarcações estão utilizando garrafas pet em seu interior e revestindo com a totora o que aumenta bastante a vida útil. Criam galinhas, peixes e o porquinho da índia que é um prato típico da região no Peru chamado de Cuy. Fizeram uma demonstração em miniatura de como é realizada a construção de uma ilha desde sua estrutura. Muito interessante. Distribuíram totora para que todos pudessem provar, achei meio sem gosto. Teve até uma brincadeira onde lançaram um sapo de cerâmica na água, amarrado numa corda, para ver quem descobria a profundidade do lago naquele ponto onde estávamos. Adivinha se o Álvaro com seu chute preciso não acerta a profundidade de quinze metros e ganha uma pequena lembrança. Cada dona de casa convida um grupo de turistas para mostrar a sua casa e o casal nos acompanha para explicar como vivem. É muito pequena e há somente uma cama no chão e penduram as suas roupas pelas paredes. O que nos chamou mais a atenção foi uma ave seca pendurada no teto da casa, nos explicaram que é um dos seus alimentos e que foi salgada e seca ao sol. Em cada ilha há um mirante de totora e a visão que se tem lá de cima é fantástica. Fomos passear num barco de totora até outra ilha e na saída as mulheres que ficam na ilha cantam em nossa homenagem. Na ilha Q’anan Pacha há algumas cabanas e um restaurante para quem quiser se hospedar alguns dias por lá. Dentro da cabana há somente uma cama e pergunto como fazem com o banho. Ele explica que há placas de energia solar nesta ilha e o banho é quente, porém fora da cabana. Navegamos em meio as ilhas flutuantes e passamos pela igreja adventista que há em uma das ilhas, é uma construção que se destaca justamente por não ser feita de totora e sim de madeira. O Álvaro fotografou a pedido de um casal de amigos, seguidores deste credo e que antes da viagem haviam comentado fazendo o Álvaro prometer, caso visse a igreja de fotografá-la. Seguimos em direção a Ilha Taquile que fica a uns trinta e cinco quilômetros de distância. A embarcação é bastante lenta e a impressão que tenho é que se fossemos a nado chegaríamos mais rápido. Levamos três horas até chegarmos à ilha e conforme nos aproximávamos o céu ficava mais azul. O azul da água do Titicaca cada vez ficava mais intenso e lindo e a temperatura com a vinda do sol estava bem mais agradável apesar do vento continuar bastante frio. Iniciamos a caminhada para chegarmos ao topo da ilha e logo na primeira curva encontramos várias ovelhas sendo conduzidas morro abaixo. Nas encostas da ilha há várias terrazas que ainda hoje são aproveitadas para a agricultura. Depois de subirmos um bocado começam a surgir as primeiras moradias e todas com uma vista espetacular para o lago, a grande maioria tem os telhados de zinco pintados de vermelho. A roupa sempre muito colorida representa sua posição social e seu estado civil. Os gorros de tricô vermelhos somente podem ser usados por homens casados, os gorros vermelhos e brancos são usados por homens solteiros. Já as mulheres casadas usam pompons vermelhos em suas saias ou nas pontas de um grande lenço preto que usam sobre a cabeça e as solteiras usam pompons multicoloridos. As famílias que moram na ilha ainda seguem o preceito inca de não roubar, não ser indolente e não mentir e falam a língua quéchua. Almoçamos de frente para a imensidão azul do Titicaca. O cardápio: uma saborosa sopa de quinua como entrada e uma deliciosa truta com arroz e batata frita como prato principal. O Álvaro aproveitou para tomar uma inca kola de cor amarela fosforescente (foi a sua principal bebida no Peru). Após o almoço tivemos uma demonstração de como as mulheres trabalham com o tear e os homens fazem o tricô a mão. Sempre cores muito vivas são utilizadas nestes trabalhos. Agora teríamos que descer 545 degraus até chegarmos ao píer da ilha. Os moradores para não darem a volta por trás da ilha, caminho por onde viemos, enfrentam esta escadaria toda vez que trazem algum produto que não produzem na ilha, carregando-o nas costas. A vista que se tem do alto da ilha é espetacular, parece um mar azul com as montanhas ao fundo. Mais duas horas e trinta minutos navegando até chegarmos a Puno e conforme nos aproximávamos as nuvens escuras e o frio aumentavam. Para o lado de Cuzco a escuridão era total e torcemos para que nossos amigos tivessem chegado são e salvos ao seu destino. Quando chegamos ao hotel já eram quase 18h e começava a escurecer. Ligamos para o Rocio em Cuzco para saber notícias de nossos amigos e ficamos aliviados, pois fizeram boa viagem e estavam bem instalados. O Álvaro foi para o blog contar um pouco da nossa aventura de ontem e postar algumas fotos. Eu fui para a rua atrás de alguns artigos de higiene e quando estou retornando ao hotel adivinha quem estava de volta: a chuva, um chuvisqueiro. Vou para o quarto tentar limpar um pouco os nossos pertences para amanhã cedo seguirmos viagem. Quando vamos sair para jantar a chuva havia intensificado e resolvemos jantar no restaurante do hotel. Uma comédia! Vamos comer uma crema (sopa cremosa), quando chega o pedido percebemos que a porção é bem menor do que serviam em Cuzco e resolvemos pedir mais uma omelete para cada um. E nada do pedido chegar. Pela demora parecia que haviam comprado a galinha e esperavam ela colocar os ovos. Chamamos o garçom que simplesmente havia sumido. Ele explica que a minha omelete que era de legumes eles tiveram que pedir a cozinha do outro restaurante deles, pois estavam sem os legumes em estoque. Solicitei para já providenciarem a do Álvaro que era de presunto e queijo enquanto a outra não chegava. E a paciência do Álvaro a esta altura do campeonato já não existia mais, queria cancelar o pedido de tanta indignação. Finalmente quando o Álvaro dá a primeira garfada na sua omelete chega a minha. Ainda estava quente e deliciosa. Depois demos boas risadas da situação. Acabamos indo dormir mais tarde do que o previsto, mas sairíamos cedo pela manhã.