27/12/2010

26º dia – 31/01/2010 – Domingo

- Uruguaiana – BR a Nova Petrópolis – BR

- 704 km percorridos
- Aproximadamente 8h de viagem

- Consumo: 15,45 km/l

- 4 abastecimentos: (Alegrete – BR; São Gabriel – BR; Cachoeira do Sul – BR; Canoas – BR)
- Hotel: casa da nossa família

A volta ao lar
Muita saudade nos guiava por uma estrada conhecida, um belo dia de sol e muito calor. Até parecia que o calor do Chaco tinha vindo na bagagem. Enfrentamos bastante movimento na estrada. Eram argentinos que entravam e outros que saiam de nosso país. Pegamos um trecho com o asfalto em restauração e raspado que faz a moto se desequilibrar. Foram alguns quilômetros com este tipo de piso e agradeci a Deus quando terminou e que havíamos passado por este trecho são e salvos. Chegando a Alegrete decidimos que ao invés de irmos para a nossa casa em Porto Alegre subiríamos a serra indo até Nova Petrópolis para vermos a nossa família. O Álvaro ligou para o Nino, nosso editor do blog durante a viagem, para avisar da nossa chegada no final da tarde na cidade. E que ficaríamos para jantar na casa do pai deles. Também ligou para minha mãe avisando da nossa chegada e que dormiríamos lá na “pousada” dela. Em São Gabriel almoçamos um belo ala minuta bem a moda brasileira e matamos a saudade do feijão. A cada parada para abastecermos tínhamos também que abastecer o camelbak, pois o calor continuava infernal. Depois de Cachoeira do Sul acredito que foi na altura de Pântano Grande estávamos tão distraídos que somente vimos o pardal depois que havíamos passado por ele. Estamos esperando a multa até hoje, ou a nossa velocidade estava no limite com a tolerância e talvez ela nunca venha. A estrada continuava bastante movimentada e encontramos alguns malucos fazendo ultrapassagens absurdas. Em uma das ocasiões encontramos dois carros, um ao lado do outro, vindo na mesma direção ultrapassando uma fileira de carros e ocupando até a terceira pista que havia no trecho. Parecia que disputavam uma corrida e não estavam preocupados com a sua segurança nem com a dos outros. Os argentinos eram a maioria, oito entre dez carros, viajando em direção a fronteira. Conforme nos aproximávamos de Porto Alegre o coração acelerava. Que bela imagem chegarmos a ponte do lago Guaíba e vermos nossa bela capital, fazia 26 dias que havíamos saído por esta mesma ponte e agora voltávamos depois de passar por três países e termos muitas aventuras e histórias para contar. E o mais importante é que voltávamos são e salvos. Foi uma viagem abençoada. Mas como tínhamos definido, ela não terminava aqui e sim a cem quilômetros adiante, em Nova Petrópolis. Subir a serra foi uma maravilha, pois havia pouco movimento na estrada e a temperatura estava muito agradável. Chegamos a cidade e nossos familiares nos aguardavam com um delicioso chimarrão para comemorarmos o nosso retorno. Estávamos realizados e felizes. Encontramos todos muito bem e os nossos afilhados já haviam crescido bastante nestes dias que estivemos fora. Tomamos um banho, pois o que mais queríamos naquele momento era tirar a roupa de cordura que foi nossa parceira constante nestes dias de viagem. Foi a nossa armadura nos protegendo do sol, do vento, do frio e da chuva e agora também merecia um descanso. Tínhamos muitas histórias para contar. Não terminávamos uma e já emendávamos em outra, muitos risos e olhos arregalados com os desafios que enfrentamos pelas estradas. Teríamos histórias para contar por muitos encontros ainda. Estávamos felizes e realizados por mais uma viagem que planejamos muito e graças a Deus correu tudo bem. Não tivemos problemas com a altitude nem com a alimentação. A moto que é carburada e que nos deixava em dúvida quanto a como se comportaria na altitude, nos surpreendeu positivamente com seu desempenho. Tivemos sorte quanto ao clima que pegamos. Por um triz não pudemos visitar Machu Picchu, nossa meta simbólica e até nisto tivemos sorte. A grande verdade é que a nossa viagem foi abençoada. Mais uma vez o QUARTO membro da equipe nos acompanhou, nos abençoou, nos orientou e nos protegeu. Obrigado Deus por tudo.




21/12/2010

25º dia – 30/01/2010 – Sábado

- General Guemes – AR a Uruguaiana – BR
- 1.156 km percorridos
- Aproximadamente 14h de viagem
- Consumo: 13,56km/l
- 8 abastecimentos: (Joaquim Gonzales – AR; Monte Quemado – AR; Pampa de Los Guanacos – AR; Sáenz Peña – AR; Resistencia – AR; Saladas – AR; Mercedes – AR; Paso de Los Libres – AR)
- Hotel: River Hotel

O Chaco e a volta ao nosso Brasil
Madrugamos e até poderíamos ter saído mais cedo, mas o senhor da recepção do hotel nos disse que em instantes serviriam o café. Resolvemos aguardar e se arrependimento matasse não estaríamos mais aqui, pois foi o pior café de toda a viagem. Resumia-se a um pão duro e seco sem uma geléia ou manteiga e o leite estava com os granulados do café sem terem se dissolvido. Um horror! Como eles tinham coragem de chamar aquilo de café da manhã? De qualquer forma, valeu a boa vontade e solicitude do senhor, funcionário do hotel. Acima de tudo se preocupou em não nos deixar sem “café da manhã”. Valeu a intenção. Como não deu mesmo para engoli-lo, resolvemos ir embora. A lua cheia brilhava alta no céu, quando chegamos à rua. A estrada que enfrentaríamos hoje ainda não era nossa conhecida. Havia uma grande expectativa em função de relatos que havíamos lido onde o maior inimigo seria o calor da região. Pegamos a estrada, no início um bom trecho de autopista em ótimo estado de conservação e sinalizada, o que nos ajudou muito, pois com a escuridão que estava o reflexo dos “olhos de gato” iluminados pelo farol da moto, foram essenciais para viajarmos com segurança. Depois de um tempo rodando tranquilamente a lua começou a se deitar atrás de nós e a nossa frente percebia-se os primeiros raios de sol. Um belo amanhecer. Entramos a esquerda para agora percorrer a ruta 16, uma pista simples e que corta o Chaco até Resistencia. É uma região “sem atrativos” e muitos bichos soltos na estrada. Atenção constante. Em alguns pontos há plantações em outros somente o matagal quase cobrindo a ruta, ou seja, sem acostamento. Na localidade de Joaquim Gonzales fizemos nossa primeira parada para abastecimento e aproveitamos a “estacion de serviço” com uma boa estrutura para tomarmos um café da manhã delicioso. Incrível que num posto de combustível nós conseguimos tomar um café da manhã decente e num hotel não tivemos esta oportunidade. A cidade é pequena e possui alguma infra-estrutura, vi uma ou duas placas de hotéis, mas não sei como são. De volta a estrada começou a disputa por espaço na pista, pois foram mais de cento e cinqüenta quilômetros com muita borboleta. Nunca tínhamos visto nada parecido. Não era em determinados pontos, mas literalmente por todo o percurso com algumas concentrações mais intensas e outras nem tanto. Eram pontos escuros sobre o asfalto e quando nos aproximávamos elas levantavam vôo e literalmente várias se espatifavam no encontro com o nosso corpo e a moto. Em determinado momento tivemos que parar para limpar a viseira do capacete do Álvaro que não enxergava mais através dela. Na localidade de Monte Quemado paramos para abastecer e novamente lavar as viseiras dos capacetes. O calor começava a aumentar e a cada parada para abastecer necessitávamos comprar água e reabastecer o camelbak para nos mantermos hidratados. A localidade parecia muito pobre, as ruas eram de terra e não parecia ter muita infra-estrutura apesar de já ter lido em relatos de viagem que pessoas ficaram aqui hospedadas. Na estrada havia pouco movimento e os carros que encontramos aparentavam estarem saindo de férias já que era virada de mês e muitos carregavam uma mudança. Como havia pouco movimento e o asfalto estava em bom estado de conservação andávamos sempre acima dos 100 km/h até que levamos um belo susto. Havia um capinzal fechado na beira da estrada com mais de meio metro de altura e dali saiu correndo para atravessar a pista um enorme porco. Tivemos que frear com tudo, a moto dançou muito e quase fomos ao chão. Se o porco não tivesse o rabo enroladinho teríamos levado junto para uma feijoada. Brincadeiras a parte, pois foi por muito pouco realmente que não nos acidentamos batendo na traseira do porco. Dali para frente nós observávamos se existia algum sinal de vida próximo a estrada e diminuíamos a velocidade. Encontramos vários animais soltos na beira da estrada como galinhas, vacas, cavalos, mas nenhum deles se atravessou na pista. Parada em Pampa de Los Guanacos para abastecermos a moto e o camelbak. Encontramos ali no posto um senhor com uma vestimenta bastante interessante e que nos chamou a atenção. Era um Menonita, religião cristã que teve origem no norte da Alemanha. Eles tem uma cultura própria, pois todos os homens usam um macacão jardineira azul marinho, camisa xadrez e um chapéu típico. Andam numa charrete puxada por cavalo. Trabalham na agricultura e com a produção leiteira e de queijos. E que mais chama a nossa atenção é que eles só podem se casar com pessoas da mesma religião. Tivemos contato com menonitas em Bagé onde moramos durante um tempo. É uma cultura diferente da nossa e eles tentam ao máximo preservar a que eles trouxeram da Alemanha onde todos os domingos pela manhã eles vão aos cultos em alemão e as crianças frequentam a escolinha dominical neste período. Porém nesta comunidade em Bagé eles já não usavam mais estas vestimentas típicas e haviam aderido aos nossos costumes. De volta a estrada e depois de alguns quilômetros rodados encontramos um posto policial. Cutuquei o piloto e comentei: - será que vamos deixar alguns pesos por aqui? Um dos policiais estava sobre a pista, pois havia um caminhão com pane mecânica bem em frente ao posto e conversava com o caminhoneiro. O outro estava sentado na sombra de uma frondoza árvore. Paramos atrás do caminhão e ele veio ao nosso encontro e perguntou se eramos brasileiros e nos mandou seguir. Não pediu sequer para ver os documentos. Felizes da vida seguimos viagem. Próximo a Roque Sáenz Peña o movimento aumentou bastante e o ritmo da viagem ficou mais trancado. Paramos para abastecer num posto na beira da estrada e reaplicar o protetor solar, pois sem ele não havia como viajar. É uma cidade mediana com mais de setenta mil habitantes, mas não entramos para conhecer. Até Resistência a viagem continuou com muito movimento e alguns caminhões. Havia nos trevos de acesso as pequenas cidades ou vilarejos uma espécie de rótula o que reduzia o ritmo da viagem. O asfalto melhorou bastante e seguimos tranquilamente. Resistencia é a capital do Chaco e possui mais de trezentos mil habitantes. Por sorte a ruta passa ao largo da cidade, mas parece bem cuidada. Resistencia e sua cidade vizinha Corrientes são separadas pelo rio Paraná, mas a ponte General Manuel Belgrano as une formando um gonglomerado urbano com mais de seiscentos mil habitantes. Abastecemos quase na divisa das duas cidades num posto YPF muito bem estruturado. Tomamos uma senhora vitamina de frutas num ambiente com ar condicionado e com o calor que fazia na rua não dava vontade de sair lá de dentro. Aproveitamos e compramos três mapas de regiões específicas da Argentina que no Brasil são difíceis de encontrar. Atravessamos a ponte e definitivamente deixávamos o Chaco para trás. Tivemos que passar por dentro da cidade de Corrientes para chegarmos a ruta 12 sentido sul e por sorte era sábado e a cidade estava quase deserta, mas mesmo assim enfrentamos várias sinaleiras. Uma cidade muito bem sinalizada o que tornou fácil a nossa passagem por ela. Na periferia da cidade ainda pegamos um pouco de movimento, mas em seguida a estrada estava praticamente vazia. Conseguíamos tocar bem, pois o Álvaro havia criado um desafio para nós e tentávamos atingi-lo. Ele queria completar mil quilômetros em menos de doze horas de viagem. A estrada era uma reta com poucas curvas e praticamente toda plana. Havia poucos vilarejos em torno. Na localidade de Saladas teríamos que abastecer, pois como estávamos acelerando forte e o consumo da moto estava acima da média não teríamos combustível até Mercedes. O piloto queria tocar sem parar para o abastecimento, pois havia bastante movimento no posto e não queria perder tempo. Eu disse a ele que teríamos que abastecer, pois eu não queria ficar no meio do caminho por falta de combustível só para poder completar os mil quilômetros no prazo de doze horas. Fomos abastecer com muitas reclamações de que a fila não andava até que conseguimos ser atendidos. De volta a estrada fizemos alguns cálculos e seria possível vencer o desafio se continuássemos neste ritmo. Mais a frente havia uma viatura da polícia passeando pela estrada e justamente num local onde era proibida a ultrapassagem. Foram alguns minutos a quarenta por hora atrás daquela viatura que pareceram uma eternidade. Finalmente ultrapassamos, mas em seguida passamos por um pequeno vilarejo e havia uma camionete andando no meio da pista. Não permitia a ultrapassagem e andava muito devagar. Depois descobrimos o motivo: um bezerro solto passeando sobre a pista bem em frente ao carro e não conseguíamos ver o bicho. Finalmente ele decide voltar ao capinzal que há ao lado da estrada e voltamos a acelerar. Teríamos que pegar a esquerda e seguir a ruta 123, mas como na Argentina as placas de sinalização são colocadas após a rotatória percebemos após alguns metros que estávamos no caminho errado e tivemos que voltar. Agora sim estávamos no caminho certo e aceleramos. Faltando alguns quilômetros para a cidade de Mercedes fechávamos os mil quilômetros com onze horas e cinquenta e quatro minutos de viagem. Uma parada para fotografar o momento em meio aos campos argentinos e uma esticada nas pernas. O cansaço já era grande, pois viajávamos o dia todo com sol e muito calor. A bunda começava a doer. De volta a estrada em instantes passávamos por um local onde havia muita homenagem a Gauchito Gil e achamos que era um vilarejo que levava o seu nome. No trevo de acesso a Mercedes estavam restaurando o asfalto e tivemos que entrar na cidade cerca de cinco quilômetros para abastecer. Conversando com o frentista descobrimos que o local onde havia toda aquela homenagem a Gauchito Gil era o local onde ele fora morto. E hoje virou um santuário, fica a uns oito quilômetros de Mercedes, e seu túmulo é visitado por milhares de pessoas todos os anos. Gauchito virou figura religiosa, objeto de devoção e crenças populares. Na Argentina se encontra muitas homenagens a ele na beira das estradas sempre sinalizadas com bandeiras e fitas vermelhas. Pouco mais de cem quilômetros e estaríamos na fronteira com o Brasil. É engraçado, pois fiquei com aquele ansiedade de chegar e parecia que não saímos do lugar. Passamos por um posto policial onde paramos, pois o militar estava parado sobre a pista, ele nos pergunta se somos brasileiros indo para casa e nos libera desejando boa viagem. Continuamos acelerando, pois a saudade de casa era grande. Na ruta 14 pegamos a direita e em seguida já reconhecíamos as obras da construção do viaduto que estava causando uma tremenda confusão no entorno. Aqui fechávamos o círculo desta viagem, pois foi por onde saímos em direção ao sul e agora voltávamos pelo norte. Fomos dar uma volta na cidade de Paso de Los Libres, pois o Álvaro interpretou mal uma placa de sinalização. O que não faz a emoção de estarmos perto de casa. Na fronteira o Álvaro vai para a fila do YPF abastecer com a ótima gasolina argentina e gastar nossos últimos pesos enquanto vou providenciar os carimbos de saída nos nossos passaportes. Os trâmites de saída foram tão rápidos que o Álvaro ainda estava na fila esperando ser atendido quando retornei ao posto. Enquanto esperava na fila veio um rapaz oferecer um hotel para nos hospedarmos em Uruguaiana que ficava logo na saída da ponte. Passamos pela aduana, atravessamos a ponte e rodávamos em terras brasileiras. Que sensação maravilhosa! Fomos ao hotel ver se havia vaga, porém o preço que nos passaram estava mais caro que o preço que o rapaz havia nos oferecido. Comento sobre a oferta do rapaz na fronteira e ele pede para ver o folder do hotel com o preço. Tudo certo. Moto na garagem e subimos ao quarto, pois o que mais queríamos era tirar aquelas roupas suadas e tomar um banho. Ainda brincamos: como eles tem coragem de hospedar pessoas como nós, pois estávamos com as roupas e botas totalmente cobertas pelos restos de borboleta, suados e fedorentos. Banho tomado e vamos ao centro para jantar. Comemos um delicioso rodízio de filés e após fomos dar uma volta na praça para fazer a digestão. De volta ao hotel caímos duros na cama para o merecido descanso depois de mil e poucos quilômetros percorridos. E amanhã sim: de volta a nossa casa.













17/11/2010

24º dia – 29/01/2010 – Sexta-feira

- San Pedro de Atacama – CL a General Guemes – AR

- 580,3 km percorridos

- Aproximadamente 10h de viagem

- Consumo: 16,2 km/l

- 4 abastecimentos: (Paso Jama – AR; Susques – AR; Tilcara – AR; General Guemes – AR)

- Hotel: Noraly

Manhã gelada e final de tarde escaldante
A aduana abria às 8h e pouco depois estávamos lá. Uma fila enorme principalmente na imigração, pois todos que saem de San Pedro em direção a Bolívia para fazer o passeio ao salar precisam registrar sua saída. E na aduana havia muitos caminhoneiros, pois não podem seguir viagem durante a noite sem ter passado pela aduana que sempre fecha a noite. Mas para nossa surpresa foi tudo muito rápido, pois com pouco mais de meia hora estávamos liberados para seguir viagem. Logo na saída pegamos bastante movimento de caminhões que não conseguiam empregar uma boa velocidade, pois a estrada ia subindo suavemente. A altitude aumentava a cada metro e proporcionalmente também o frio. Com meia hora de estrada tivemos que parar e colocar as nossas balaclavas e luvas pro frio, pois não tínhamos como seguir viagem sem esta proteção extra. O céu estava azul e contrastava com o dourado da vegetação na beira da estrada e para completar a paisagem o majestoso vulcão Licancabur. Em duas horas chegávamos ao paso de Jama, somente quatro pessoas na fila, mas levamos mais de meia hora até terminarmos todos os trâmites. Trabalhavam em câmera lenta, dava vontade de socar e ver se não aceleravam o atendimento. Enquanto eu realizava a parte burocrática o Álvaro cuidava da moto e conheceu no estacionamento o casal Fernando e Danuza do Rio de Janeiro. Eles estavam no início da viagem de volta ao mundo numa Land Rover totalmente adaptada para este período que ficarão viajando. O site onde divulgam e contam como está o decorrer da viagem é www.worldexperince.com.br muito bem elaborado. E como este é um sonho que alimentamos para o futuro a identificação com o projeto da viagem foi imediato. Comemos um pedaço de pizza e tomamos um chá de coca. Abastecemos e levamos uma garrafa pet de gasolina reserva, pois em muitos relatos lemos que em Susques viajantes enfrentaram a falta de combustível. A chegada a Susques foi tranqüila e havia combustível, abastecemos e aproveitamos para colar um adesivo na bomba de gasolina do posto e outro na janela do restaurante onde encontramos o adesivo do amigo Renato Lopes. Voltamos à estrada e aviso o Álvaro que teríamos que entrar em Tilcara, pois precisávamos cambiar pesos. Ele fica aborrecido, pois não queria fazer este desvio que levaria certo tempo e atrasaria a viagem. O céu continuava azul e fazia frio apesar do sol que brilhava. Passamos pelas salinas grandes sempre um espetáculo aos olhos e em instantes já subíamos em ziguezague até atingirmos os 4170 m.s.n.m. onde paramos para comprar umas lembrancinhas, pequenas esculturas com pedras da região, feita pelos nativos – muito bonito. Iniciamos a descida da Costa de Lipán com uma curva atrás da outra e uma vista maravilhosa. Passamos por Purmamarca e em seguida pegamos a direita em direção a Tilcara. Justamente naquela direção o céu estava escuro e com muitas nuvens motivo para o piloto ficar ainda mais emburrado. Eu fui rezando para conseguir cambiar o dinheiro e que não pegássemos chuva, pois estávamos sem a capa protetora e isto aumentaria ainda mais o nível de estresse do piloto. Minha reza não adiantou, pois em instantes começaram a cair os primeiros pingos de chuva e a cada metro que avançávamos a chuva intensificava. Fui à central telefônica local onde havia feito o câmbio dias atrás e ele me diz que não tinha como fazer o câmbio. Pergunto se há outro local onde possa cambiar e me indica uma loja de vestuário umas três casas acima, casualmente a proprietária entra na central telefônica e já perguntamos se ela poderia fazer o câmbio. Ela pede para que a acompanhe e muito gentilmente ela troca dólares e reais por pesos, claro que com um pequeno ágio, mas justo. Estou feliz por tudo ter dado certo, pois senão teríamos que entrar em Jujuy e procurar um caixa eletrônico o que levaria muito mais tempo. Ainda bem que sempre temos um anjo da guarda nos protegendo e encontramos pessoas boas pelo caminho. O Álvaro me aguardava na rua com uma cara de quem não estava muito contente, pois continuava chovendo. Somente perguntou se deu tudo certo. Subo na moto e fomos até o posto na saída da cidade abastecer e seguimos viagem. Conforme nos afastávamos da cidade a chuva ia diminuindo e quando chegamos ao entroncamento para Jujuy ou Susques já havia parado de chover. Parecia piada e contando ninguém acredita, mas pegamos chuva somente neste trecho do acesso a cidade de Tilcara na entrada e na saída para cambiar pesos. Conforme nos aproximávamos de Jujuy o movimento na estrada foi intensificando e com isto diminuindo o ritmo da viagem. Passamos ao largo da cidade e pegamos a autopista em direção a General Guemes onde a viagem voltou a fluir novamente. Conforme nos afastávamos de Jujuy o calor aumentava e chegando próximo a Guemes o calor era insuportável. Incrível como num trecho tão curto a temperatura subira tanto. Na entrada da cidade um asfalto horrível e uma sinaleira num cruzamento que não abria nunca. Era um verdadeiro caos somado a sauna que fazíamos dentro das roupas de cordura e os forros térmicos. Paramos num posto de combustíveis na pista paralela a estrada principal e próximo havia dois hotéis. Estávamos cansados, mal humorados e estressados com o calor que passávamos. Enquanto o Álvaro abasteceu a moto fui ao hotel em frente ver se havia vaga. Na recepção uma enorme criação de moscas por todos os lados, o quarto uma pocilga, mas tinha vaga. Vou ao outro hotel na quadra seguinte, a recepção do hotel ficava dentro do restaurante que estava lotado e a cozinha que podia ser vista da rua não parecia nada higiênica e não havia vaga. Pergunto se há outro hotel na cidade e me informam que há um sim a umas duas quadras para dentro da cidade. Volto ao posto e achamos melhor dormirmos na cidade, pois faltavam duzentos quilômetros até a próxima cidade onde poderíamos conseguir pouso em direção ao Chaco. A cidade de Salta ficava a uns cinqüenta quilômetros de distância, mas como ficava fora do nosso roteiro seriam mais cinqüenta quilômetros que teríamos que voltar na manhã seguinte. Entramos na cidade para ver se achávamos o outro hotel e depois de muitas voltas e pedir algumas informações finalmente achamos o hotel. Havia vaga, era muito simples, mas pelos menos era limpinho e não tinha criação de moscas. A moto ficou estacionada no corredor de entrada do hotel. Depois de um banho nos sentíamos melhor. Que sensação horrível esta de viajar com todo este calor, parece que você vai sufocar e isto provavelmente era uma amostra do que enfrentaríamos no dia de amanhã quando atravessaríamos o Chaco Argentino. Fomos jantar uma gostosa pizza e tomar uma cervejinha para relaxar. Agora tudo estava bem e as dificuldades do dia haviam ficado para trás. Incrível como em viagens iguais a esta nossa capacidade de recomposição e reposicionamento aumentam e os pequenos prazeres são deliciados em sua plenitude. Pegamos algumas informações sobre o horário do nascer do sol e qual seria o horário mais quente do dia. Fomos dormir cedo para madrugarmos e sairmos da cidade ainda antes do nascer do sol, tudo para evitarmos ao máximo o sol escaldante.

25/10/2010

23º dia – 28/01/2010 – Quinta-feira

- Arica – CL a San Pedro de Atacama – CL
- 680,5 km percorridos
- Aproximadamente 8h de viagem
- Consumo: 15,36 km/l
- 6 abastecimentos: (Gasolina reserva; Pozo Almonte – CL; Oficina Victoria – CL; Gasolina reserva; Chuquicamata – CL; San Pedro Atacama – CL)
- Hotel: Hostal Puritama

Acelerando forte
O trecho de Arica até a estrada que dá acesso a Iquique já nos era familiar. No início muita subida e descida em meio às coloridas montanhas desérticas. Lindo. Alguns vales verdejantes e muitas curvas. Após a localidade de Huara havia o trecho onde estavam restaurando o asfalto e para nossa surpresa o desvio de rípio estava bem mais extenso em relação ao que enfrentamos quando passamos por ali alguns dias atrás. Neste trecho a moto apaga por falta de gasolina, faltando uns quinze quilômetros até a localidade de Pozo Almonte onde abasteceríamos (Ela já rodava somente no bafo da gasolina). Por um litro de gasolina tão somente, nós tivemos que iniciar a operação abastecimento com a gasolina reserva e torcer para não passar nenhum carro e levantar muito pó (Ossos do ofício para quem gosta de moto viagem, onde a autonomia da motocicleta exige de nós cuidado redobrado). Tínhamos gasolina reserva, pois sabíamos da necessidade desta parada. Se o piloto tivesse aliviado um pouco a mão no acelerador talvez tivéssemos chegado, mas como queríamos avançar o máximo possível a cada dia, acelerar era necessário. Pozo Almonte é uma cidade pequena, mas com alguma estrutura de hotéis e restaurantes. A estrada, ruta 5, se transforma na rua principal da cidade. Abastecemos a moto e a garrafa pet que havíamos esvaziado a poucos quilômetros atrás. O frentista nos alerta que no Chile é proibido levar gasolina reserva desta forma e nos dá dois conselhos. Primeiro: colocar uma sacola plástica em volta da garrafa para não ficar tão a vista. Segundo: abastecermos com a gasolina reserva antes de Quillagua, onde passaríamos por um controle fronteiriço regional e lá confiscariam a gasolina se a vissem. Comemos um picolé para amenizar um pouco o calor e em seguida voltamos à estrada. A partir de agora o trajeto era novo para nós, mas definitivamente era uma planície quase monótona se compararmos a paisagem da ruta 1 onde tínhamos a companhia do pacífico. Passamos pelo Salar de Pintados, mas ele não era branco como o que vimos no Atacama e na Argentina. Chegando a Oficina Victoria distante apenas 56 km abastecemos novamente, pois depois seriam 250 km sem abastecimento. Pouco mais adiante passamos pelo salar de Llamara, mas mais parecia uma terra onde haviam passado um arado preparando a terra para o plantio, pois era muito diferente e estranho este relevo. Em alguns pontos próximos a estrada avistávamos buracos profundos onde se enxergava um pouco de sal, mas achei um perigo no caso de alguém sair da estrada e cair num daqueles buracos. Para nos distrair de vez em quando surgia um redemoinho de areia lá ao longe. Algumas curvas e um pouco de descida para tirar a monotonia da estrada e após uma destas curvas estávamos próximos ao posto fronteiriço de Quillagua. Paramos para esticar as pernas e abastecermos com a gasolina reserva. No posto, parada obrigatória, pois é necessário carimbar um papel que será entregue na cancela de saída. Carimbaram o papel e nem foram olhar a moto, muito tranqüilo. O asfalto daqui em diante ficou precário e continuava uma linha reta, enxergávamos alguns picos mais elevados ao longe. Alguns quilômetros antes de sairmos da ruta 5, nós passamos por um local que chama muito a atenção do Álvaro desde que o conheço. Quem não o conhece pode achar estranho, mas como ele é um amante de história, acho natural. Um cemitério muito antigo na beira da estrada, no meio do nada, sem sinal de algum povoado por perto. Com todo calor senegalês que fazia ele parou a moto e foi tirar algumas fotos e conferir de perto os túmulos de madeira envelhecidos, que compunham com a paisagem desértica e desolada um cenário de faroeste. Após esta parada inusitada, seguimos viagem e em instantes dobramos a esquerda rumo a Chuquicamata, e muito suavemente fomos ganhando altitude na estrada já conhecida por nós. As redes de alta tensão foram nossa companhia até próximo a Chuqui, onde paramos para abastecer. Na entrada de Calama a sinalização é precária, quase não existem placas indicando a direção para San Pedro de Atacama. Vejo uma pequena placa próxima a sinaleira e peço para o piloto seguir naquela direção, porém rodamos um bocado e só surgem placas indicando que o aeroporto ficava naquela direção. Quando surge uma placa com o número da rodovia, aviso-o que acredito não ser a estrada certa. Mas como num passe de mágica, depois de ouvir muita reclamação do piloto, afinal era eu que havia indicado o caminho, coisa que sempre o deixa irritado, surge uma placa enorme com a direção para San Pedro, sendo necessário pegar uma alça de acesso e passar sob um viaduto para entrar na estrada correta. Que alívio! Até San Pedro foi um pulo e chegamos cedo na cidade, pois ainda tinha sol. Fomos ao hostal onde ficamos hospedados dias atrás e a atendente logo se lembrou de nós. Tomamos um banho e comemos umas deliciosas empanadas de carne que vendiam no armazém próximo ao hostal. Fomos passear pela cidade e ver quanto as agências estavam cobrando pelo passeio ao salar de Uyuni. Achamos que haveria a opção de um dia de passeio, mas estávamos enganados. Somente havia a opção de quatro dias, três dias para conhecer o salar e um dia para retornar a San Pedro. Achamos bem razoável o valor que estavam cobrando e ficamos tentados a fazer o passeio. Fomos caminhar um pouco e pensar na melhor opção. Passei numa casa de câmbio para comprar pesos argentinos e somente tinham cem pesos para vender e na outra casa não aceitavam reais para o câmbio e como estávamos com poucos dólares deixei para resolver esta situação na Argentina. Fomos jantar num belo restaurante e deixamos para lá a idéia que nos tentava de visitar Uyuni partindo de San Pedro, pois estávamos exaustos. Fomos dormir logo após o jantar, pois na manhã seguinte teríamos mais estrada e fronteiras pela frente.