12/08/2010

20º dia (Parte I) – 25/01/2010 – Segunda-feira

Cuzco – PE a Puno – PE
- 390,7km percorridos
- aproximadamente 11h de viagem
- consumo: 16,14km/l
- 2 abastecimentos: (Santa Rosa – PE; Puno – PE)
- Hotel: Balsa Inn

Surpresas agradáveis outras nem tanto – Parte I
A saída do hotel
Combinamos de levantar cedo, pois começavam a servir o café às 5h da manhã, e pretendíamos sair logo em seguida. Chuviscava, mas as condições para viajar já estavam bem melhores que no dia anterior. Descemos para a sala do café e a primeira surpresa do dia: não tinha pão. Este chegaria daqui à uma hora mais ou menos. Recém cortavam as frutas, ou seja, naquele horário não havia café e para mim é a principal refeição do dia. Que organização!!! Começamos a descer a bagagem enquanto aguardávamos pelo café. Seguem as surpresas: o proprietário da garagem somente chegaria às 6h. A solução era aguardar e tentar não se estressar, um senhor teste de paciência. Tomamos nosso café e o Álvaro segue para pegar a moto, bate na porta da garagem e nenhum sinal de vida. O mal educado do proprietário chega com meia hora de atraso, isto que fora avisado que pegaríamos a moto antes da seis da manhã. Bagagem montada e pegamos um táxi para nos guiar até a saída da cidade em direção a Puno. As ruas estavam muito enlameadas e esburacadas, paramos num grifo para abastecer e seguimos viagem. A impressão que ficou registrada na saída foi de uma cidade muito feia, pois havia muita sujeira, água e lama, diferente do ambiente agradável do centro de Cuzco. Este percurso foi feito de forma bastante lenta devido ao movimento e pela condição precária do asfalto. Finalmente a viagem começou a render após termos deixado a região mais movimentada. Continuava chuviscando e fazia frio, estávamos vestindo o forro térmico e as capas de chuva por cima das roupas de cordura.
Muita lama, pedras e água sobre a pista
Alguns quilômetros rodados e os poucos carros que vinham em sentido contrário faziam sinal de luz. O que seria? Rodamos mais um pouco e encontramos uma fila de carros parados, algumas motos locais passaram e foram para o inicio da fila e nós fomos atrás. Outra surpresa: havia uma montanha de terra, pedras e água passando sobre a pista. Não passava carro em nenhum sentido, a rodovia estava totalmente interditada. Já havia no local uma máquina retro-escavadeira trabalhando na retirada do entulho, em seguida chega outra destas patrolas e os homens do exército para auxiliarem na limpeza da pista. Sem alternativa só nos restava aguardar. Em volta o cenário era muito triste, pois víamos plantações totalmente inundadas, casas que foram invadidas pelas águas e os móveis encharcados estavam do lado de fora das casas, enfim um cenário muito parecido com as imagens da enchente aqui no Brasil, com um agravante: muita e muita lama. Víamos outras casas desmanchadas e que foram levadas com a violência das águas e restava apenas um vestígio da sua estrutura de adobe. Retiraram o mais grosso do entulho e liberaram a pista contrária para os veículos maiores. Caminhões passavam se contorcendo totalmente em meio aos escombros, eu e o Álvaro só nos olhamos perguntando mentalmente como passaríamos aí se não fizessem uma limpeza maior? O problema não era passar de moto. O problema era passar de moto com garupa e totalmente carregada e muito pesada. Qualquer inclinação nestas circunstâncias seria tombo na certa. Novamente fecham a passagem para efetuarem outra limpeza e então liberaram a nossa pista. O piloto deixa os veículos maiores passarem primeiro para que compactem um pouco a terra e eu vou a pé. Ele me diz:
- Se for para cair, que eu caia sozinho... E pergunta:
- Consegues atravessar a pé?...
- Sim...
- Então, boa sorte para nós...
Finalizou o piloto, respirando fundo para iniciar a travessia. Disse a ele ainda para ir com calma que tudo daria certo. Deixei-o atravessar primeiro, a moto dançou um pouco com a lama, mas correu tudo bem. Agora começava a minha aventura: passar pela lateral da pista em meio à lama, pedras e água. Onde havia mais terra e pedras a bota afundava bastante, onde havia água e lama sobre a pista escorregava feito sabão. Era um exercício constante de equilíbrio, dificultado pelo fato de estar carregando a mala de tanque. Finalmente encontro o Álvaro e subo na moto para seguirmos viagem. Agradecemos ao quarto membro da equipe por tudo ter corrido bem e sem maiores sustos. Mal terminávamos os agradecimentos e havia outro ponto interditado, porém já haviam liberado uma pista que continha bastante água e pouca lama o que permitia a passagem. A outra pista era puro lamaçal. Novamente segui a pé enquanto o Álvaro seguiu com a moto. Este trecho, porém era bem mais extenso que o anterior. Em determinado momento tive que entrar no lamaçal para dar espaço para um caminhão e quase perco uma das minhas botas entaladas na lama. Ainda tinha que ter o cuidado para que elas não molhassem por dentro, pois com aquele frio, viajar com o pé molhado seria hipotermia na certa. Aqui estávamos na localidade de Oropesa, encontro o Álvaro mais a frente e lá vamos nós novamente, torcendo para que as adversidades terminassem, mas as notícias não eram boas. Rodamos alguns quilômetros e nova surpresa: um rio que corria próximo a estrada saíra do seu leito e a água estava com tanta correnteza que somente era possível a passagem de caminhões e ônibus. Pedimos informações a um morador que observava o movimento e ele nos fala sobre um desvio que havia logo a frente. Havia uma lâmina d’água sobre a pista com a extensão de mais ou menos um quilômetro. Não sei se havia um lago em ambos os lados da estrada ou se aquela água toda estava acumulada da chuva, mas encobria toda a pista e tínhamos a impressão de ser um lago só. Aguardamos que o carro que estava a nossa frente fizesse a travessia para analisarmos a possibilidade de atravessarmos também de moto. Tínhamos que seguir e lá fomos nós, muito lentamente para que a água não batesse demais no motor e para não nos molhar em demasia. Havia um pouco de correnteza, mas tudo correu bem. Chegamos numa bifurcação e pedimos novamente por onde seguir e nos disseram que teríamos que voltar e pegar um desvio a direita logo que passássemos pela lâmina d’água novamente. Seguimos adiante para ver se realmente não havia acesso a estrada e encontramos a pista totalmente tomada pela água. Voltamos todo este trecho pós-lâmina d’água, atravessamos novamente e logo após enfim dobramos a direita onde nos deparamos novamente com água sobre a pista, mas sem a correnteza e profundidade da estrada principal. Estávamos na localidade de Andahuaylillas e pouco sobrou dela. As pessoas aguardavam na beira da estrada com o que conseguiram salvar. Havia caminhões que carregavam os pertences e levavam os moradores para uma região não atingida pelas chuvas. Era impressionante ver somente um portão de ferro que ficara de pé, pois a casa e o muro que a protegia não mais existiam. As crianças, que tem uma luz especial, conseguiam se divertir com um feixe de totora navegando pelos locais alagados como se nada tivesse acontecido. Atravessamos este trecho e subimos uma estrada de terra para chegarmos novamente a estrada principal. Nesta subida levamos um susto, pois uma máquina agrícola, dirigida por um imbecil (o termo imbecil foi um dos mais amenos adjetivos “elogiosos” proferidos pelo Álvaro naquele momento. Vocês já o conhecem por isto me perdoem utilizar este termo, mas o faço para exemplificar o quanto o fato estressou o piloto) simplesmente nos fecha e quase vamos ao chão. De volta à estrada continuamos a ver os prejuízos causados pela chuva, alguns pontos com muitas pedras sobre a pista. Em minutos estávamos em Urcos e na saída do vilarejo passamos pelo trevo de acesso a estrada transoceânica que está em processo de asfaltamento. Esta rodovia termina ou inicia lá no Acre e ligará o Brasil ao Oceano Pacífico. No início do nosso projeto pretendíamos percorrer esta estrada, mas precisaríamos de mais tempo para realizar esta travessia. Um dos objetivos do Álvaro é ainda percorrer esta rodovia. Todas estas surpresas nós enfrentamos percorrendo somente 50 km o que significou quase quatro horas desde a nossa saída de Cuzco. Pedimos a Deus que a viagem passasse a ser mais tranqüila daqui para frente.

OBS: o relato deste dia continuará no post seguinte.


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