17/11/2010

24º dia – 29/01/2010 – Sexta-feira

- San Pedro de Atacama – CL a General Guemes – AR

- 580,3 km percorridos

- Aproximadamente 10h de viagem

- Consumo: 16,2 km/l

- 4 abastecimentos: (Paso Jama – AR; Susques – AR; Tilcara – AR; General Guemes – AR)

- Hotel: Noraly

Manhã gelada e final de tarde escaldante
A aduana abria às 8h e pouco depois estávamos lá. Uma fila enorme principalmente na imigração, pois todos que saem de San Pedro em direção a Bolívia para fazer o passeio ao salar precisam registrar sua saída. E na aduana havia muitos caminhoneiros, pois não podem seguir viagem durante a noite sem ter passado pela aduana que sempre fecha a noite. Mas para nossa surpresa foi tudo muito rápido, pois com pouco mais de meia hora estávamos liberados para seguir viagem. Logo na saída pegamos bastante movimento de caminhões que não conseguiam empregar uma boa velocidade, pois a estrada ia subindo suavemente. A altitude aumentava a cada metro e proporcionalmente também o frio. Com meia hora de estrada tivemos que parar e colocar as nossas balaclavas e luvas pro frio, pois não tínhamos como seguir viagem sem esta proteção extra. O céu estava azul e contrastava com o dourado da vegetação na beira da estrada e para completar a paisagem o majestoso vulcão Licancabur. Em duas horas chegávamos ao paso de Jama, somente quatro pessoas na fila, mas levamos mais de meia hora até terminarmos todos os trâmites. Trabalhavam em câmera lenta, dava vontade de socar e ver se não aceleravam o atendimento. Enquanto eu realizava a parte burocrática o Álvaro cuidava da moto e conheceu no estacionamento o casal Fernando e Danuza do Rio de Janeiro. Eles estavam no início da viagem de volta ao mundo numa Land Rover totalmente adaptada para este período que ficarão viajando. O site onde divulgam e contam como está o decorrer da viagem é www.worldexperince.com.br muito bem elaborado. E como este é um sonho que alimentamos para o futuro a identificação com o projeto da viagem foi imediato. Comemos um pedaço de pizza e tomamos um chá de coca. Abastecemos e levamos uma garrafa pet de gasolina reserva, pois em muitos relatos lemos que em Susques viajantes enfrentaram a falta de combustível. A chegada a Susques foi tranqüila e havia combustível, abastecemos e aproveitamos para colar um adesivo na bomba de gasolina do posto e outro na janela do restaurante onde encontramos o adesivo do amigo Renato Lopes. Voltamos à estrada e aviso o Álvaro que teríamos que entrar em Tilcara, pois precisávamos cambiar pesos. Ele fica aborrecido, pois não queria fazer este desvio que levaria certo tempo e atrasaria a viagem. O céu continuava azul e fazia frio apesar do sol que brilhava. Passamos pelas salinas grandes sempre um espetáculo aos olhos e em instantes já subíamos em ziguezague até atingirmos os 4170 m.s.n.m. onde paramos para comprar umas lembrancinhas, pequenas esculturas com pedras da região, feita pelos nativos – muito bonito. Iniciamos a descida da Costa de Lipán com uma curva atrás da outra e uma vista maravilhosa. Passamos por Purmamarca e em seguida pegamos a direita em direção a Tilcara. Justamente naquela direção o céu estava escuro e com muitas nuvens motivo para o piloto ficar ainda mais emburrado. Eu fui rezando para conseguir cambiar o dinheiro e que não pegássemos chuva, pois estávamos sem a capa protetora e isto aumentaria ainda mais o nível de estresse do piloto. Minha reza não adiantou, pois em instantes começaram a cair os primeiros pingos de chuva e a cada metro que avançávamos a chuva intensificava. Fui à central telefônica local onde havia feito o câmbio dias atrás e ele me diz que não tinha como fazer o câmbio. Pergunto se há outro local onde possa cambiar e me indica uma loja de vestuário umas três casas acima, casualmente a proprietária entra na central telefônica e já perguntamos se ela poderia fazer o câmbio. Ela pede para que a acompanhe e muito gentilmente ela troca dólares e reais por pesos, claro que com um pequeno ágio, mas justo. Estou feliz por tudo ter dado certo, pois senão teríamos que entrar em Jujuy e procurar um caixa eletrônico o que levaria muito mais tempo. Ainda bem que sempre temos um anjo da guarda nos protegendo e encontramos pessoas boas pelo caminho. O Álvaro me aguardava na rua com uma cara de quem não estava muito contente, pois continuava chovendo. Somente perguntou se deu tudo certo. Subo na moto e fomos até o posto na saída da cidade abastecer e seguimos viagem. Conforme nos afastávamos da cidade a chuva ia diminuindo e quando chegamos ao entroncamento para Jujuy ou Susques já havia parado de chover. Parecia piada e contando ninguém acredita, mas pegamos chuva somente neste trecho do acesso a cidade de Tilcara na entrada e na saída para cambiar pesos. Conforme nos aproximávamos de Jujuy o movimento na estrada foi intensificando e com isto diminuindo o ritmo da viagem. Passamos ao largo da cidade e pegamos a autopista em direção a General Guemes onde a viagem voltou a fluir novamente. Conforme nos afastávamos de Jujuy o calor aumentava e chegando próximo a Guemes o calor era insuportável. Incrível como num trecho tão curto a temperatura subira tanto. Na entrada da cidade um asfalto horrível e uma sinaleira num cruzamento que não abria nunca. Era um verdadeiro caos somado a sauna que fazíamos dentro das roupas de cordura e os forros térmicos. Paramos num posto de combustíveis na pista paralela a estrada principal e próximo havia dois hotéis. Estávamos cansados, mal humorados e estressados com o calor que passávamos. Enquanto o Álvaro abasteceu a moto fui ao hotel em frente ver se havia vaga. Na recepção uma enorme criação de moscas por todos os lados, o quarto uma pocilga, mas tinha vaga. Vou ao outro hotel na quadra seguinte, a recepção do hotel ficava dentro do restaurante que estava lotado e a cozinha que podia ser vista da rua não parecia nada higiênica e não havia vaga. Pergunto se há outro hotel na cidade e me informam que há um sim a umas duas quadras para dentro da cidade. Volto ao posto e achamos melhor dormirmos na cidade, pois faltavam duzentos quilômetros até a próxima cidade onde poderíamos conseguir pouso em direção ao Chaco. A cidade de Salta ficava a uns cinqüenta quilômetros de distância, mas como ficava fora do nosso roteiro seriam mais cinqüenta quilômetros que teríamos que voltar na manhã seguinte. Entramos na cidade para ver se achávamos o outro hotel e depois de muitas voltas e pedir algumas informações finalmente achamos o hotel. Havia vaga, era muito simples, mas pelos menos era limpinho e não tinha criação de moscas. A moto ficou estacionada no corredor de entrada do hotel. Depois de um banho nos sentíamos melhor. Que sensação horrível esta de viajar com todo este calor, parece que você vai sufocar e isto provavelmente era uma amostra do que enfrentaríamos no dia de amanhã quando atravessaríamos o Chaco Argentino. Fomos jantar uma gostosa pizza e tomar uma cervejinha para relaxar. Agora tudo estava bem e as dificuldades do dia haviam ficado para trás. Incrível como em viagens iguais a esta nossa capacidade de recomposição e reposicionamento aumentam e os pequenos prazeres são deliciados em sua plenitude. Pegamos algumas informações sobre o horário do nascer do sol e qual seria o horário mais quente do dia. Fomos dormir cedo para madrugarmos e sairmos da cidade ainda antes do nascer do sol, tudo para evitarmos ao máximo o sol escaldante.