21/03/2010

4° dia - 09/01/10 - Sábado

- Faimallá - AR a Salta - AR
- 390,4 km percorridos
- Aproximadamente 10 horas de viagem
- Consumo: 18,09 km / l
- 3 Abastecimentos: Amaicha del Valle - AR, Cafayte - AR e Salta - AR
- Hotel: Residencial Balcarce
Após uma noite reparadora, tomamos um bom desayuno e fui buscar a moto. Chegando à garagem, me dei conta que havia esquecido a chave da moto = Poderia ser um mau presságio do que seria a viagem? Procurei dissipar estes pensamentos e retornei para o hotel com o sol já mostrando à que veio. Efetuei a verificação do óleo e lubrificação da correia e após me desloquei ao hotel onde carregamos as malas. Despedimo-nos de Faimallá às 9h:45min (horário Argentino). Logo alcançamos a ruta que nos levaria a Taffi del Valle. Não demorou muito para perceber que a Adelaide estava certa em insistir em não seguirmos viagem. A estrada era extremamente sinuosa, estreita e perigosa, com várias curvas em cotovelos e subidas íngremes. Muitos caracoles. Estávamos pela primeira vez sendo apresentados a um tipo de estrada que dali em diante veríamos com certa freqüência: curvas em cotovelos, desfiladeiros e belíssimas paisagens. Logo alcançamos um monumento que reproduzia em uma grande estátua a figura de um índio junto a um mirador ao lado de um estacionamento com bancas onde se vendia o artesanato do lugar. Já estávamos a 1.000 m.s.n.m. Paramos e fomos tirar algumas fotos. Na volta ao local onde estacionamos a moto, esta estava cercada de curiosos. Éramos a atração. Alguns se aproximavam para saber para onde íamos e de onde vínhamos, admirados com a coragem de nos aventurar sozinhos pela América a bordo de uma motocicleta. Aqui conhecemos o casal Renê Rino Pancaldi e Arminda de Pancaldi da cidade de Lujan, que abordo de uma camioneta puxando um trailer viajavam pelo norte argentino. Dna Arminda presenteou a Adelaide com a imagem da Madre de Lujan em um santinho e preso a ele um pedaço do manto da santa, que todo ano, na festa em sua homenagem é renovado e o antigo recortado para ser distribuído entre os fiéis. Também dois rapazes argentinos a bordo de uma Honda biz fizeram questão de tirar uma foto com a gente. Continuamos a viagem e a subir, subir e subir. A estrada continuava estreita, sinuosa, com curvas fechadas, nas suas margens despenhadeiros, rios caudalosos e vegetação espessa. Em um trecho, cuja subida era bastante inclinada, em função da pouca largura da estrada e de no sentido contrário estar descendo um ônibus os veículos pararam. Péssima notícia para este motociclista. Parar a moto nestas condições é péssimo. Lembro a todos que estávamos carregados e já a uma boa altitude. A moto apagou justamente aí. Atrás de nós alguns carros que vendo que empacamos resolveram passar. Consegui ligar a moto e arrancar. Pela inclinação a moto deu uma leve empinada (escapamos de cair = Deus nos protegia).Pequeno susto, logo superado com a emoção das paisagens que víamos. Seguimos ainda subindo muito.

A paisagem muda
De repente a paisagem, como que num passe de mágica mudou. Parecia que havíamos entrado em outro mundo. Ficou para trás, mais do que de supetão, sem aviso algum, a paisagem de florestas densas, com despenhadeiros a margeá-la, dando lugar a campos, com gramíneas e pastagens. Muito interessante. Paramos para tirar algumas fotos. No pico dos altos morros cobertos de grama, vimos uma fila imensa de ovelhas. Mais parecia uma fila de formigas corredeiras. Tudo muito lindo. Chegamos com  estas imagens a Taffi del Vale, uma simpática cidade a beira de um grande lago. Não pudemos conhecê-la, pois seguimos direto, sem nem mesmo parar para abastecimento. A estrada, agora em meio a campos, continuava a subir. Logo o visual começou novamente a mudar e chegamos a El Infernillo, local deserto, com muita pedra e do outro lado do rio algumas casas de pedra. Estávamos sendo apresentados a uma vegetação, clima, paisagem e cultura completamente diferentes do que havíamos visto até então. A partir daqui conhecemos os incríveis cactones, gigantescas árvores pertencentes a família dos cáctus, lindas, majestosas e que parecem estar nos fazendo sinais obscenos. O local era lindo e mágico. Chegamos ao povoado de Amaicha del Valle, povoado indígena. Lá abastecemos e almoçamos. Ao pagar o combustível, notei uma taxa por uso de água, necessária para este local tão seco e inóspito. Quando estávamos para seguir, cerca de 1 km após o posto, nos chamou atenção um museu. Resolvemos visitá-lo. Foi importante, pois nos apresentou para as particularidades da região e nos esclareceu muitos aspectos que passamos a atentar no decorrer da viagem. Neste museu, através de uma maquete do vale, vimos que El Infernillo, local, que horas antes paramos foi o mais alto do trecho, com 3.050 m.s.n.m. O guia, um senhor descendente amaichá, explicou tudo muito bem, na visita guiada de aproximadamente 45 min. Terminada a vista, seguimos para alcançar um dos objetivos de nossa viagem: as ruínas do antigo povo Quilmes. Enfrentamos um pequeno trecho de 5 km de rípio e finalmente alcançamos as ruínas que podiam ser avistadas do asfalto. Lá também um guia nos apresentou este local incrível, onde anteriores aos povos Incas, que os dominou, vivia um povo extremamente desenvolvido e que chegou neste sítio, a contar com mais de 5.000 indivíduos. Subi um pouco para avistá-la de cima e notei o quanto ainda há de ruínas abandonadas no seu entorno. Somente 15 % da área está restaurada. Seguimos viagem, pois nosso objetivo era alcançar Salta, a mais de 250 km de onde estávamos e tínhamos pelas visitas, rendido pouco em nossa viagem até aquele momento. No caminho a Cafayate nos deparamos com uma invenção da engenharia rodoviária daquele local, que seria comum no decorrer da viagem, tanto no Chile, como no Peru, que são depressões na estrada, para dar vazão a água da chuva, que quando vem, vem com muita força. Em uma destas, vimos um verdadeiro rio, de água e lama. Atravessei sozinho, por medo de cair, pois não sabemos o que há abaixo da lama e da água. A Adelaide foi a pé. Ao passar a moto ela deu uma leve resvalada, que com a aceleração logo se aprumou. No caminho até Cafayate, conhecida como a região dos vinhos, encontramos muitas vinícolas. O local é muito interessante e mereceria uma estadia mais prolongada, porém nosso objetivo era outro.

A quebrada de Cafayate e a chegada em Salta
De Cafayate em diante fomos apresentados a um dos locais mais impressionantes da viagem: A Quebrada de Cafayate, um local, que ao longo de mais de 100 km está repleto de montanhas, morros e vales sem quase vegetação alguma, mas com uma diversidade de formas, cores incríveis. Paisagem de tirar o fôlego e grandiosa. Até hoje me arrependo de não ter pousado em Cafayate para no dia seguinte, com calma atravessar a quebrada, parando muito para poder fotografar, o que certamente não reproduziria a majestosidade do local. Chegamos a Salta a noite e com chuva. Passamos um sufoco para achar um local para pousar. As pessoas também não faziam muita questão de ajudar, especialmente os donos de pousadas e hotéis, que poderiam se solidarizar com a nossa situação e ligar para seus pares. Infelizmente, isto não ocorreu, deixando para mim uma péssima impressão de Salta e de seu povo. Encontramos uma espelunca para dormir. Jantamos em um dos restaurantes que circunda a praça central e após despencamos mais uma vez na cama. No dia seguinte, domingo, a idéia era visitar o MAAM (museu arqueológico alta montanha) para vermos a crianças mumificadas.
Notas: A viagem foi muito tranqüila, agradável e com uma incrível diversidade de paisagens. Embora o trecho tenha sido curto, as diversas paradas e atividades nos fizeram chegar muito tarde a Salta. Esta com uma sinalização tranqüila, pois embora grande e povoada, é fácil de ser acessada. Neste dia entramos verdadeiramente em cenários surpreendentes. Também pela primeira vez a moto sentiu um pouco a altitude.

Resumo do quarto dia: Surpreendente

Impressões da Navegadora:

Um dia de muitas surpresas pelo caminho. Estava ansiosa para conhecer a estrada que causou tanto estresse no dia anterior. Realmente uma serra muito bonita, em boa parte de trajeto acompanhada pelo percurso de um rio, com muitas curvas fechadas e um pouco estreitas e que em alguns pontos é necessário parar para que os veículos que vem em sentido contrário consigam vencer as curvas. Num destes momentos levei um susto, pois saindo de uma destas curvas encontramos já alguns carros parados numa subida muito íngreme e logo atrás de nós já vinham outros carros. Como todo o peso da moto fica concentrado na traseira é grande a chance dela empinar, então desci da moto para ficar mais fácil para o piloto realizar as manobras necessárias. Preocupei-me, pois segurar a moto com todo aquele peso numa subida daquelas não é tarefa fácil. Mas como sempre o piloto mostrou-se muito hábil e correu tudo bem. Seguimos viagem tranquilamente, em ritmo de passeio. Fiquei maravilhada com a natureza nesse trajeto de menos de 400 km, pois ela mudou tantas vezes, da mata fechada a localidades de pura pedra e rocha, onde somente os cactones conseguem sobreviver e alguns seres humanos teimam em viver. A obra do Criador é um espetáculo só neste recanto da Argentina. Formações rochosas que o vento e a chuva tratam de modificar ou quem sabe aperfeiçoar com o passar do tempo, tornando tudo ainda mais belo. O contraste das cores se intensificando ainda mais com o brilho do sol no final da tarde na Quebrada de Cafayate é um espetáculo. Resolvemos de comum acordo seguir até Salta mesmo sabendo que chegaríamos à noite e sempre é mais difícil conseguir hospedagem. Acho que conseguimos o último quarto disponível na cidade num sábado à noite, sempre com a ajuda de Deus, tranqüilizando meu coração que já estava aflito àquela hora da noite.

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